Me encho de roupas caras, maquiagens e perfumes que nunca usei. Saio e só volto de madrugada com os pedaços de mim mesma que ainda não perdi, os únicos que com você não deixei. Me encho cada vez mais de vazios que não deveriam estar aqui, me desmonto por dentro. Pego o quarto cigarro sentada na sacada suja, olho a lua na esperança que ela sorria pra mim. Espero em vão. Atendo vozes que eu não conheço, borrando no espelho os últimos vestígios do batom vermelho. Desfaço o penteado que levei horas preparando em segundos, e sorrio com o prazer de ver o meu estado terminal. Bebo meus últimos goles de absinto e vejo a sua imagem ali, misturando o sabor amargo com o que ainda lembro dos seus beijos, escuto a sua voz na sala, seus passos no corredor, e despedaço todas as memórias aos poucos com as unhas que pintei ontem. Observo a fumaça sumir no céu estrelado, sumir depois de passar por meus lábios gastos e vejo meu coração se desfazendo com ela. Busco qualquer saída e te encontro em meio a qualquer tentativa. Acabo com mais um maço e vou enchendo de fumaça todos os meus poros e todos meus vazios. Te encontro perdido ali, em meio a toda essa poluição, me falando que isso vai prejudicar minha saúde. Escuto suas palavras em meio ao silêncio enquanto converso com as estrelas. Amar você também me destrói. E te espanto junto com a fumaça, esperando que você suma com a noite e tire todo o peso do meu corpo. Trago mais uma vez, dou mais um gole, te encontro pela ultima vez enquanto meu coração ainda bate raivoso, por sua causa. Visto meu par de asas quebradas e não te sinto mais. Não sinto mais nada.
Julie
eu tenho o péssimo habito de roubar textos, me desculpem x: é involutário , rs .
mais esse texto ,dela é muito, muuuuito lindo .
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