Porque sempre levo um susto quando te vejo e me pergunto como é que
fiquei todos esses anos sem te ver. Porque você me entedia e dai eu
desvio o rosto um segundo e já não aguento de saudade. E descubro que
não é tédio mas sim cansaço porque amar é uma maratona no sol e sem
água. E ainda assim, é a única sombra e água fresca que existe. Mas e se
no primeiro passo eu me quebrar inteira? E se eu forçar e acabar pra
sempre sem conseguir andar de novo? Eu tenho medo que você seja um
caminhão de luz que me esmague e me cegue na frente de todo mundo. Eu
tenho medo de ser um saquinho frágil de bolinhas de gude e de você me
abrir. E minhas bolhinhas correrem cada uma para um canto do mundo. E
entrarem pelas valetas do universo. E eu nunca mais conseguir me juntar
do jeito que sou agora. Eu tenho medo de você abrir o espartilho
superficial que aperto todos os dias para me manter ereta, firme e
irônica. Minha angústia particular que me faz parecer segura. Eu tenho
medo de você melhorar minha vida de um jeito que eu nunca mais possa me
ajeitar, confortável, em minhas reclamações. Eu tenho medo da minha
cabeça rolar, dos meus braços se desprenderem, do meu estômago sair
pelos olhos. Eu tenho medo de deixar de ser filha, de deixar de ser
amiga, de deixar de ser menina, de deixar de ser estranha, de deixar de
ser sozinha, de deixar de ser triste, de deixar de ser cínica. Eu tenho
muito medo de deixar de ser.
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