domingo, 12 de setembro de 2010

segredos e mistérios

HÁ UM LADO REVELADOR NAS HISTÓRIAS OCULTAS

Mais um domingo que você me liga. Igual faz há uns quatro ou cinco anos. Você beija a sua mãe depois do churrasco, dá um oi carinhoso e finalmente sem culpa à sua ex-mulher, deixa as meninas em casa, cheira a camiseta pra ver se a coisa tá muito feia e descobre que sua vida está prestes a ficar vazia: chegou a hora de me ligar.

Você não sabe ao certo o que vê em mim, mas também não sabe ao certo o que não vê. Você sabe que pode comer uma mulher mais gostosa do que eu, afinal é poderoso, e pra piorar ainda tem uma banda de rock. Mas por alguma razão prefere a gostosa garantida, aquela que ainda ri das suas piadas. Mesmo sendo as mesmas piadas há quatro ou cinco anos.

Aí você me liga, com aquele ar descompromissado e meigo de quem só
quer tomar um café com uma velha amiga. A velha amiga que você come há quatro ou cinco anos, mesmo nunca tendo tomado sequer um café com ela.

Eu não faço a menor idéia do que vejo em você, mas também não faço idéia do que não vejo. Eu posso dar para um cara mais gostoso, como de fato já fiz milhares de vezes. Mas por alguma razão prefiro suas piadas velhas e seu jeito homem de ser. Você é um idiota, uma criança, um bobo
alegre, um deslumbrado, um chato. Mas você é homem, você é pai, você é chefe, você segura o tranco da vida. E talvez seja só por isso que eu ainda te agüente: você pode ter todos os defeitos do mundo, mas ainda é melhor do que o resto do mundo.

Aí a gente, sem saber ao certo o que está fazendo ali, mas sem lugar melhor para estar, acaba pulando o café que nunca existiu e indo direto ao assunto. O mesmo assunto de quatro ou cinco anos que, assim como
as suas piadas, nunca cansa ou enjoa.

E aí acontece um fenômeno muito estranho comigo. Mesmo quando não é
bom, mesmo quando, cansado e egoísta, você não espera por mim e vira pro lado pra dormir ou pra voltar à sua bolha egocêntrica de tudo o que é seu, eu sempre me apaixono por você.

Todas as vezes que te vi, nestes últimos quatro ou cinco anos, sempre me apaixonei por você. Sempre estive pronta pra começar algo, pra tomar um café de verdade, pra passear de mãos dadas no claro, pra poder te apresentar ao sol sem receber mensagens de gente louca ou olhares curiosos, pra escutar uma piada nova. E você sempre ignorou esse fato,

seguindo seu caminho que sempre é interrompido pelo vazio da sua camiseta fedendo a churrasco.

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