sábado, 27 de abril de 2013

Adeus, amor


Amor, eu preciso que você me escute. Preciso que sente aqui do lado como se fosse a sua primeira visita. De mãos dadas comigo e os olhos bem abertos, para acreditar em tudo o que eu tenho para falar.
Estive pensando um pouco e decidi mandar você embora.
Preciso que solte as minhas mãos, para começar. Que deixe as paredes vazias, a luz acesa e nenhuma vela espalhada pelos cantos da casa.
Eu também preciso que você me deixe em silêncio. Quero ensurdecer sempre que um Dó e um Fá se combinarem com alguma doçura – qualquer melodia me lembraria que você existe e eu não aguento mais.
E essas flores, amor? Você pode levá-las com você?
Eu te arrumo uma caixa, claro. Assim você organiza tudo do seu jeito e deixa guardado para um outro momento, quem sabe. Mas agora eu preciso que você vá.
Preciso que me deixe, que é para eu sentir a sua falta. Para eu endurecer e amargar com o tempo, amor. E nunca mais chorar.
Preciso que você desapareça para eu não me reconhecer quando olhar em volta, vir somente a mim e não ligar nem um pouco. Para economizar abraços, poupar pensamentos e investir em coisas que são mais importantes agora.
Vai, amor. Vai bater em outra porta.
Me devolve aquela paz indiferente de quem não te sente por perto. Põe os meus pés no chão, minha cabeça no lugar e me deixa ser só pele.
Eu e você já não cabemos juntos em um só corpo, amor. E se algum de nós tem que deixá-lo, que não seja eu.


Maria Eduarda Buarque, retirado de - A prancheta.

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