sexta-feira, 13 de agosto de 2010

indecisão

Qualquer um poderia reparar naquilo que ele lhe fazia. Aquele sorisso escondido entre um olhar e outro. Aquelas mãos que se tocam no escuro e aqueles olhos que se procuram no claro. Não era amor, mas era quase. Aquela saudade de tê-lo por perto, uma vez na semana era pouco. Pensava em se mudar para casa dele, o mais breve, na verdade apareceria por lá num final de semana. Roupas de frio e escova de dente. Um livro e um caderno em branco, no quarto um violão, e aquele quase amor. Foi muito o tempo que esperaram para poder viver aquele sentimento, que antes nem sabiam tê-lo. Ele dizia amor. Ela dizia gostar muito. Embora o chamasse de amor, quando ele não estava perto. É que havia dias, nestes cinzas, chuvosos de inverno em que sonhava tê-lo por perto, e tinha uma vontade enorme de tê-lo e só. E nesses dias ela o amava. E amava hoje. E cada dia declarava: Te amo hoje. Por saber da incerteza dos sentimentos que carregava. Amor não é certeza, é não saber. Ainda mais que voltavam e iam com a frequência alterada. De quem retorna ao porto depois de uma loonga viagem, cansados. Mas encontravam um no outro aquele refugio, aquele cais, um porto, um lar. Habitavam-se. A solidão dela, a solidão dele, refugiavam-se na solidão alheia. Materializava-se o amor, naquele instante. Mesmo sem expressarem-se aquele risos, aquele silêncio, as mãos suavando, a respiração ofegante parecia mesmo que o Eu te amo queria pular à garganta, chegar a boca do outro, e adentrando aquele corpo fosse morar no coração. Ela dizia sempre que não tinha coração, mas o Eu te amo dele subiria à mente. E infectaria de amor todos os neurônios e volataria à boca dela, pra ele e num ciclo amoroso sem fim. Mas o fim sempre chega e tem um começo. Pra ela o fim começa quando ela entende que hoje acaba, e por isso ela sempre diz que ama hoje, amanhã não sabe. E desse jeito vai cumprindo sua promessa de amar hoje, só por hoje. Como aqueles encontros de alcóolicos anônimos, ou das mulheres que amam demais. Ela fundaria um novo: das mulheres que amam na medida certa. Nem mais nem menos. Mas surgiu-lhe uma dúvida: isso era mesmo amor? Indecisão.

- Luana Gabriela

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