quarta-feira, 30 de junho de 2010

fotografia imaginária


Eu memorizei cada canto do seu quarto. É claro que memorizei, era uma garota apaixonada. Um colchão jogado ao chão, à espera de um box que não tinha a menor previsão de chegada. E a maneira como nos jogávamos nele, como se dividi-lo fosse tudo o que precisávamos para continuar sorrindo. O encaixe perfeito, uma boa noite de sono e a imensa dificuldade de nos desvencilharmos daqueles lençóis negros na manhã seguinte. A luz que teimava em incidir todas as manhãs pelas frestas da cortina, antes do horário de acordamos; o chão gelado e o seu casaco cinza de capuz vermelho, que eu costumava vestir em noites frias, acompanhado de um belo par de meia com sola emborrachada. Lembro-me de por vezes te acordar com beijos e da dificuldade que você tinha em assimilar que não estava sonhando, expressando um alívio contente. Recordo-me de te observar sob a luz indireta e de perder uns minutos te amando mais um pouquinho ao constatar teus olhos entrando nos meus.
Lembro também das paredes, repletas de fotos, lugares onde estivemos juntos e outros em que pretendíamos estar, desenhos e bilhetes carinhosos amontoavam-se dando mais e mais volume ao painel das nossas vidas. Evidências de um amor zeloso e cheio de pequenas surpresas. Enquanto você saía eu me pegava fitando-o por horas a fio e criando soluções infalíveis para cada espaço em branco com o qual pudesse me deparar. Queria encher as nossas vidas de um pouco mais de ‘nós’, porque, ao fim do dia, era só o que fazia sentido.
Confiei seu quarto à memória. Disse para mim mesma que era para as noites em que abríssemos 2 garrafas de vinho e apagássemos todas as luzes, para que mesmo assim eu soubesse por onde te guiar. Mas na verdade era para que, mais tarde, no vazio da minha própria cama, eu pudesse fechar os olhos e me imaginar ao seu lado na sonora trincheira que era a sua vida.
Eu te amava como um campo em chamas .


http://liveinskin.wordpress.com/

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