quarta-feira, 12 de maio de 2010

barruada


Ele era pra onde eu corria quando queria fugir do mundo, então eu pensava... se eu tiver que fugir dele eu vou pra onde? Era pior que perder qualquer coisa do meu passado, porque ele era a minha única ideia de futuro. Podem imaginar o que é dizer adeus a quem você mais ama? eu queria não ter precisado dizer isso nunca, mas eu tive que dizer, eu disse e fui. Qualquer um que perdeu aquilo que tinha como certo, sabe o que eu senti durante dias, sabe que a gente acaba aprendendo a viver no hoje e sozinha. Eu cuspi no passado por alguém que não poderia estar no meu futuro e teve um preço, sempre tem, é besteira você achar que vai sair impune das suas 'mancadas', lá na frente você sempre paga.
Ele nunca soube das olheiras que me acompanharam durante meses e nem do quanto eu daria qualquer coisa pra ter ouvido algo diferente aquela manhã, sacrificaria tudo, a minha última gota de sangue, de suor, meu último suspiro, meu último desejo, pra nos trazer de volta do passado, pra fazer com que aquela sexta-feira não fosse a última. Eu passei por maus bocados longe daquela fortaleza de segurança que era ele, eu não tive um único abraço que me confortasse, eu não tive uma única palavra que 'tiquetaqueasse' o meu coração, eu não senti nada comparado a calmaria que vinha dele, beijei outras bocas, mas nunca mais outra alma.
Eu andei pensando que com o tempo a gente se acostuma. Mas é mentira, a gente não se acostuma nunca, não esquece nunca, embora jure esquecimento todos os dias. Tem sempre aquela dorsinha aguda no peito, aquela saudadesinha filha da mãe gritando no ouvido a falta que ele faz. Você vai conhecendo outras pessoas, vai vivendo outras coisas, passando por novos lugares e novas situações. Mas no final do dia, da semana, do mês, do ano... ele acaba aparecendo, algumas vezes num rápido piscar de olhos, num sonho, numa lembrança, numa música, numa risadinha à toa; mas outras vezes acontece dele aparecer mesmo, ali, concreto, na sua frente, naquela 'barruada' do acaso.
Aconteceu comigo ontem. Aquela 'quase barruada' era tão esperada, tão merecida, tão 'de Deus'... que qualquer palavra seria desnecessária. Mas sempre sai um 'Oi'... aquele que você passou meses jurando que seria respondido apenas por educação, que não passaria de cordialidade e que de maneira nenhuma o diálogo se estenderia, acontece que sempre se estende. A gente quer saber como o outro tá, quer saber se faz falta, quer saber qualquer coisa que nos garanta ali, naquele papinho bobo, por mais alguns minutos; no fundo a gente quer mesmo é ter a nossa saudade compensada, é ter o prazer de se sentir amada, é saber que não somos apenas uma conhecida a quem ele saudou com um 'Oi' ... não, não somos só isso, afinal ele tá ali, esticando a conversa, tocando em você, te mimando com palavras. Foi assim comigo ontem, vai ser assim sempre. E a gente pode não voltar nunca mais um pro outro, como pode voltar amanhã, a única coisa certa mesmo, é que esses 'atropelos' vão continuar acontecendo, na fila do banco, no cinema, no supermercado... e quando terminar a conversa a gente vai dizer mais uma vez que sente saudades, só pra deixar a certeza de que aquele encontro foi planejado por nossas almas muito antes dos nossos corpos se encontrarem, só pra gente não esquecer de que não se esquece, de que amor é mesmo essa coisa pra todo o sempre e não precisa de volta, de recaídas e de nenhuma burocracia.



amanda teles



atendendo a pedidos, haha (:
se precisarem de textos, (lobalela.caotica@hotmail.com)

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